quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sucos e refrigerantes ácidos podem estragar os dentes

Você é daquele que prefere refrigerante com “gostinho” de limão e ainda pede para o garçom trazer um copo com mais limão espremido e gelo? Ou consome diariamente suco de laranja industrializado? Então aqui vai um alerta: o esmalte dos seus dentes pode estar indo estômago abaixo, literalmente. Uma pesquisa inédita concluída em 2009 na Universidade de Rochester, em Nova York (EUA), comprovou que o consumo frequente dessas substâncias pode ser mais prejudicial ao esmalte dos dentes do que o peróxido de hidrogênio, substância usada no processo de clareamento dental.

A pesquisa fez um comparativo entre um gel de clareamento contendo 6% de peróxido de hidrogênio e um suco de laranja in vitro. Em laboratório, as duas substâncias foram colocadas sobre o esmalte do dente, com uso de saliva, reproduzindo o ambiente da boca humana. O resultado foi que o suco de laranja diminuiu a dureza dos dentes e aumentou a irregularidade do esmalte, enquanto que o gel clareador não apresentou alterações significativas. As superfícies do esmalte ficaram expostas às substâncias por 20 minutos diários, durante 5 dias.
“Percebo que muita gente tem dúvida quanto a fazer ou não um clareamento com receio que o processo prejudique o esmalte dos dentes, e não imagina que certos hábitos alimentares podem ser piores. Sucos com alto grau de acidez ou refrigerantes com limão, se consumidos diariamente, são mais agressivos que o peróxido de hidrogênio que é usado num processo de branqueamento”, explica a cirurgiã dentista Ivany Kabbach, especialista em dentística restauradora e professora dessa disciplina do CETAO (Centro de Estudos, Treinamento e Aperfeiçoamento em Odontologia) de São Paulo.

Ela conta que, certa vez, atendeu em consultório um paciente que sempre espremia limão na água antes de tomá-la. “Ele fazia uso contínuo do limão e tinha a superfície do esmalte dos dentes totalmente corroída. Muitas vezes a pessoa não tem noção do quanto isso é prejudicial”, diz Ivany, ensinando uma forma de identificar o problema. “Se o desgaste for na face do dente voltada para a língua, o paciente sente como se existisse um degrau, afinal houve perda do esmalte. Já na parte da frente dos dentes o desgate é visível. Ao se olhar no espelho, a pessoa nota que o dente tem uma coloração diferente, amarelada, porque ele está mais fino.”

Ivany, que é integrante da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética, explica que uma maneira de evitar o desgate do esmalte é checar o grau de acidez (pH) dos sucos e refrigerantes (principalmente os de laranja e limão). “Num processo de clareamento, o ideal é usar o peróxido de hidrogênio com pH neutro, ou seja, em torno de 7. Alguns sucos de laranja industrializados tem um pH abaixo de 5, ou seja, são bem mais ácidos do que o gel normalmente usado em consultório.”

Além de checar a acidez das bebidas, é preciso ficar atento aos produtos que prometem clarear os dentes e estão disponíveis no mercado, vendidos em farmácias, supermercados e até pela televisão. “Alguns laboratórios não produzem o peróxido de hidrogênio com pH neutro, por isso é preciso ficar atento. Se a pessoa optar por fazer um clareamento dental, precisa procurar um profissional qualificado, que fará uso do produto com pH controlado, sem prejudicar o esmalte dos dentes”, alerta a cirurgiã dentista.

Crianças estão entre as vítimas do dano ao esmalte dos dentes

No Brasil, um estudo semelhante foi feito na Faculdade de Odontologia da USP pela cirurgiã dentista Christiana Murakami. A pesquisa foi realizada com 967 crianças com idade entre 3 e 4 anos, com dentição decídua (dentes de leite) completa, na cidade de Diadema, Grande São Paulo. “O resultado foi surpreendente: 51,6% delas já apresentava desgate patológico por erosão, sendo que a maioria ainda encontrava-se no estágio inicial, atingindo o esmalte dos dentes”, explica ela.

Os principais fatores externos identificados estão relacionados à dieta das crianças, como os sucos industrializados consumidos durante o lanche na escola ou oferecidos pelos pais em casa. “O que percebemos é que os pais sabem que refrigerante provoca cárie por causa do açúcar, mas não têm consciência que um suco pode ser prejudicial por causa do ácido que danifica a estrutura do dente. Os pais acreditam que dar suco natural várias vezes por dia é saudável e seguro, mas não é bem assim. O próprio ácido da fruta pode provocar o desgate do esmalte”, explica Christiana. Basta comparar o pH das bebidas.

Segundo a dentista, os refrigerantes em geral apresentam pH em torno de 3 e um suco natural de laranja varia entre 2,5 a 3.

Para a pesquisadora, os dados servem de alerta para um diagnóstico precoce na prevenção da erosão dentária. “Os pais devem ficar atentos ao risco da ingestão de ácidos na dieta de seus filhos. Nas crianças avaliadas na pesquisa, observamos que o desgate era inicial, ou seja, ainda estava no esmalte do dente. O segundo passo é atingir a dentina (tecido que forma o corpo do dente, localizado entre o esmalte e a cavidade pulpar) e evoluir rapidamente.”

Prevenção aos danos ao esmalte dos dentes

Então, se os ácidos contidos nos sucos industrializados e nos naturais são prejudiciais aos dentes, o que beber? A nutróloga Valéria Goulart, chefe do Departamento de Nutrologia Esportiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) esclarece. “O problema da erosão aparece quando a pessoa consome alimentos muito ácidos com frequência”, diz.
Sobre essa frequência, a nutróloga faz o seguinte comparativo. “Pessoas que comem duas ou mais vezes frutas cítricas ao dia, tem 37 vezes mais chance de ter erosão nos dentes do que aquelas que não consomem. Riscos semelhantes são observados se ingerir bebidas esportivas (4 vezes mais), se usarem vinagre de maçã (10 vezes mais) ou beberam refrigerantes (4 vezes mais) quando consumidas diariamente. A corrosão pode ser de aproximadamente 1 mm ao dia”, informa Valéria, também diretora científica da Associação Paulista de Medicina.

Ela alerta ainda sobre os conservantes adicionados aos sucos. “Diversas indústrias colocam ácido cítrico, tartárico ou málico para diminuir o pH do suco, ficando mais ácido a fim de evitar o crescimento de microoganismos. Hoje, por conta do estilo de vida das pessoas e dos hábitos alimentares nem sempre tão saudáveis, percebemos um grande problema com a saúde bucal devido ao grande consumo dessas bebidas industrializadas e de outros alimentos ácidos”, explica.

A saída é aproveitar sucos naturais feitos com frutas que não são tão ácidas, com a melancia e o melão. Cabe também aqui lembrar dos benefícios da água de côco, mas a natural, sem açúcar. Segundo uma publicação da revista científica americana “General Dentistry”, chás pretos e verde inibem a erosão dos dentes. “E ainda possuem poderosos antioxidantes que aumentam a defesa bucal. Leite e derivados, devido ao alto pH e elevada composição de cálcio, contribuem para reconstruir o esmalte dos dentes”, aconselha a nutróloga.
Além da atenção à dieta, há algumas medidas preventivas que podem ser adotadas no dia a dia. “Nunca escove os dentes logo após tomar bebidas ácidas. O ácido amolece o esmalte do dente e se você escovar logo em seguida fará uma abrasão, o que causará um desgaste maior ainda. A orientação é fazer um bochecho com água e aguardar, no mínimo 15 minutos, para iniciar a escovação”, ensina Christiana, cujo estudo feito com as crianças de Diadema fez parte da dissertação de mestrado defendida no final do ano passado. Se ingerir bebidas ácidas, a dica é que sejam consumidas geladas e por um canudo. “Geladas porque a baixa temperatura diminui a velocidade da reação química, e o canudo porque restringe o contato do líquido com os dentes. Mas o canudo deve ser usado na posição correta: posicionado na língua e não a frente dos dentes”.

Longe de ser um motim contra os sucos ácidos e refrigerantes, a intenção das pesquisas é alertar para o consumo moderado desses produtos, além de provar que substâncias de fácil acesso no dia a dia podem prejudicar os dentes. “De vez em quando, comer um alimento ou bebida ácida não causará problema, mas se forem ingeridos com frequência, poderá desgastar a dentição”, conclui a nutróloga. Bom senso e equilíbrio na dieta alimentar ainda continuam sendo os melhores aliados para preservar a saúde.

Confira o pH de algumas bebidas antes de beber

A nutróloga Valéria Goulart explica que pH (potencial hidrogeniônico ou Potencial hidrogênio iônico) indica a acidez, alcalinidade ou neutralidade de um líquido. “Pode variar de 0 a 14, no qual quanto menor for este índice de pH de uma substância, mais ácida será. Uma bebida é considerada ácida se o pH for <7, neutra se o pH for = 7 e alcalina/básica se for tiver pH > 7″. Abaixo seguem exemplos do pH de algumas bebidas:

Bebidas:  pH
  • Água pura: 7,0
  • Leite: 6,4
  • Chás: 4,8 a 5,0
  • Café: 4,5 a 5,0
  • Iogurte: 4,5 a 5,0
  • Tomate: 4,30 a 4,90
  • Suco de tomate: 4,0 a 4,2
  • Cervejas: 4,0 a 4,1
  • Néctar de goiaba: 3,8 a 4,2
  • Molho de salada: 3,6
  • Suco de laranja: 3,5
  • Vinho tinto: 3,0 a 3,6
  • Damasco: 3,30 a 4,80
  • Maçãs: 3,30 a 3,90
  • Vinagre: 3,2
  • Suco de laranja: 3,0 a 4,0
  • Suco de uva: 3,0 a 3,6
  • Bebida gaseificada: 3,0
  • Uvas: 2,90 a 4,50
  • Refrigerante do tipo cola: 1,9 a 2.5
  • Refrigerante de guaraná : 1,9 a 2.2
  • Suco de limão: 1,7 a 2,60

SUCO: pH
  • Laranja 3,2 – 3                                                               
  • Maracujá simples 2,6 – 3,5
  • Uva simples 2,8 – 3,3
  • Maracujá concentrado 2,7 – 3,7
  • Goiaba 3,2 – 4,1
  • Manga 3,8 – 4,2
  • Caju simples 3,6
  • Caju concentrado 3,8 – 4,0
  • Abacaxi simples 3,1 – 4,0
  • Abacaxi concentrado 3,2 – 3,8
  • Uva concentrado 2,8 – 3,5
  • Limão simples 2,6 – 4,4
  • Limão concentrado 1,8 – 2,4
  • Tangerina simples 2,8
  • Tangerina concentrado 2,9 – 3,5

Fonte: Agência Estado, 11/02/2010      


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